Tuesday, February 26, 2013

PROVA RODOVIA DO CAFÉ - 1965




Há quarenta anos atrás inaugurava-se a Rodovia do Café, ligando Apucarana a Curitiba, e foi realizada uma corrida para comemorar o feito. Muito mudou nessas 4 décadas. Entre outras coisas, o café há muito tempo não é a cultura escolhida por grande parte dos agricultores paranaenses, tendo sido superado pela soja. Os Simcas, FNMS, Willys e DKWs que formaram grande parte dos participantes eram fabricados por empresas que não mais existem, sendo incorporadas por companhia mais fortes. Alguns dos pilotos já morreram há muito tempo, e dos vivos, não há um único na ativa. E naquela época ainda se corria em estradas.

Hoje existem três autódromos asfaltados no Estado do Paraná, mas naquela época, o único autódromo do Brasil ainda era Interlagos. Ou seja, as opções para realização de corridas eram estradas ou pistas improvisadas em cidades. As primeiras geralmente resultavam em provas de alta velocidade, quando realizadas em asfalto, que priorizavam carros de maior potência. As segundas, eram prato cheio para carros menores.

Apesar do progresso que se sentira nessa temporada, o automobilismo brasileiro ainda era muito dividido. Havia um certo intercâmbio entre paulistas e cariocas, mas os gaúchos ficavam no Rio Grande, brasilienses, catarinenses e paranaenses nos seus respectivos estados, e o automobilismo nordestino era bem subdesenvolvido. Portanto, era raro ver corridas com representantes de diversos estados. Nesse ponto, a prova Rodovia do Café foi um grande feito para a época.

Entre as equipes de fábrica, só não participou a Willys. A Simca veio com tudo: trouxe as duas Abarth normais, para Jayme Silva e Ubaldo César Lolli; o Tempestade (Perereca) para Ciro Cayres; a Abarth com motor Simca nacional para Georges Perrot, inscrita na categoria Protótipos, e duas carreteras para Toco e Jaú.

A Vemag trouxe três Malzonis, para Marinho, Lameirão e Scuracchio, além de Belcars para Roberto Dal Pont e Anísio Campos.

Havia 12 carreteras inscritas, inclusive o superstar gaúcho Catharino Andreatta. Breno Fornari, seu ex-companheiro das Mil Milhas, trouxe uma carretera Simca. Além disso, dois paranaenses tinham grandes chances nessa categoria: Ângelo Cunha e Altair Barranco.

Entre os protótipos, figurava o futuro construtor do Manta, no Paraná, Marcio Leitão com um protótipo DKW com panca de Ferrari.

Havia um bom número de Simcas e FNMs lutando entre os carros de turismo de maior porte. Roberto Galucci, duas vezes vencedor dos 500 km de Interlagos, largaria com FNM. Ugo Galina e Lauro Maurmann, este último gaúcho, também defenderiam a marca. Alguns habituées de Simca também participariam da prova: Roberto Gomes, de São Paulo, Zoroastro Avon, também paulista que viria a morar no Paraná, e o catarinense Plínio Luersen.

Três senhoras largariam: Lula Gancia, com uma Alfa Giulia, Leonie Caires e Marize Clemente com Simcas, todas as três de São Paulo.

Não havia Berlinettas de fábrica, mas Ettore Beppe, do Paraná, era um forte representante da marca. Outro concorrente com Interlagos era o carioca Ricardo Achcar.

Os gentlemen Emilio Zambello e Piero Gancia estavam presentes com as suas Alfas, assim como Alberto Felice.

Entre os carros de menor porte, destacava-se o piracicabano Max Weiser e o gaúcho Karl Iwers, com DKWS, e outro carioca, Helio Mazza, com um Renault 1093.

Ao todo, 52 carros com pilotos de cinco estados diferentes, partiriam de Curitiba para Apucarana, na primeira etapa, fazendo o trajeto Apucarana-Curitiba na volta. Detalhe importante é que os carros tinham que ser tripulados por acompanhantes, além dos pilotos, desta forma dando à corrida um gostinho de rally, ou melhor ainda, de Mille Miglia!

Os dois primeiros carros a sair de Curitiba, às 9h10m, foram a carretera Ford Edelbrock de Eduardo Scharps e Toco, com a Simca, seguidos de Catharino Andreatta e Rubens Pinheiro. Ou seja, as 12 carreteras saíram primeiro, seguidas dos seis protótipos, e por fim, os carros de turismo e GTS, sempre por ordem de cilindrada. As Simca Abarth estavam enquadradas no último grupo, e de fato as Abarths puro sangue largaram juntas na 27a e 28a. posições, 13 minutos após a primeira carretera partir.

Catharino Andreatta, especializado neste tipo de corrida, assumiu a ponta, imprimindo bom ritmo. Se ganhasse Catharino não só levaria os 200 mil cruzeiros do prêmio, mas também 1 milhão de uma aposta. Altair Barranco, uma das esperanças paranaenses foi o primeiro a desistir e a signora Lula Gancia deu um grande susto capotando a sua Alfa no KM 56, mas saiu ilesa.

Catharino perdeu as esperanças do milhão e duzentos no KM178, abandonando, e foi ultrapassado por Toco com a carretera da Simca. Este conseguiu manter a liderança até o final da primeira etapa, sem antes passar por um trecho com muita chuva e ventania, próximo de Ponta Grossa. A ordem de chegada em Apucarana foi Toco, Ângelo, Ciro, Jaime, Ubaldo e Marinho. Muitos carros abandonaram já na primeira etapa. Lameirão, que houvera perdido o para-brisa chegara em Apucarana mas não teve condições de continuar.

Embora Toco tenha sido o primeiro a chegar, o menor tempo na primeira etapa fora obtido por Jayme Silva no Abarth 26, seguido de Ubaldo no 44, Angelo Cunha na carretera, Cyro Caíres na Perereca e Toco na carretera Simca. E foi nessa ordem que partiram no caminho de volta para Curitiba.

A volta foi mais ou menos um passeio para Jayme, seguido de Lolli com a outra Abarth. Este, entretanto, acabou abandonando a corrida no km 140, desfazendo a possibilidade de um 1-2 das Abarth. A 16 km do fim, o paranaense Ettore Beppe, que vinha fazendo excelente corrida com seu Interlagos, quebrou, tentando ainda empurrar o carro por 10 km!

No final, na soma dos tempos, ainda deu 1-2 da Simca, com Ciro Cayres fazendo muitas peripécias para manter a instável Perereca na pista. Em alguns trechos Jayme disse que chegou a atingir 250 km por hora, e a sua média final foi de 154,800 km/h, bem alta se considerarmos que parte da prova foi disputada sob chuva. Esta foi a única vitória em prova de estrada das Abarth, na sua curta estadia no Brasil, solidificando a incontestável posição de Jayme Silva como volante do ano.

A Rodovia do Café teria mais uma edição no ano seguinte, ganha por Ettore Beppe, sendo que o ciclo de grandes provas de estrada no Paraná seria fechado com a prova da Rodovia do Xisto, em 1968, ganha por Ubaldo César Lolli com média superior a 180 km/h. Em 1967, inaugurava-se o Autódromo de Curitiba, entrando o Paraná na era das corridas de autódromo.

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